Paula Braun se destaca na volta às novelas: “Sou apaixonada pela Olívia, mulher forte com suas fraquezas”

Atriz da trama das 7 diz não julgar mulheres como a personagem, mas torce para ela se libertar de ser a “outra”


18 de julho de 2022 01h42

Foto: Jorge Bispo

Por Luciana Marques

Longe da TV há cerca de 10 anos, quando fez Amor à Vida, Paula Braun está de volta às novelas como a ex-bailarina Olívia, uma das principais personagens de Cara e Coragem. Ela tem divertido e também emocionado o público com essa mulher que considera “forte com suas fraquezas e desejos". Indagada se um papel desse tamanho demorou para chegar, a atriz afirma que se a pergunta fosse feita para a jovem que se mudou, aos 17 anos, de Santa Catarina para São Paulo, para estudar teatro, ela diria que sim. Mas para a Paula hoje, aos 43 anos, mãe de Flora, de 11, e Benjamin, de 7, da união com o ator Mateus Solano, foi como tinha que ser. “Voltar a trabalhar como atriz despertou um lado de muita felicidade. Mas fazer novelas faz parte do caminho, não é o objetivo final”, diz ela, que recentemente dirigiu e produziu o seu primeiro longa, o documentário Ioiô de Iaiá, disponível no Globoplay.

A personagem da trama das 7 é bem-sucedida, dona de uma companhia de dança e mãe da jovem Lou (Vitória Bohn). Mas mesmo com toda a independência e potência, se submete, há 20 anos, a ser a “outra” mulher de Joca (Leopoldo Pacheco), mantendo a relação às escondidas. “A fragilidade dessa mulher incrível é o relacionamento”. A atriz sabe que há muitas “Olívias” por aí e prefere não julgar. Mas afirma que, assim como o público, deseja que ela se liberte dessa situação. “Eu torço demais, eu sou apaixonada pela Olívia”. Na entrevista, Paula fala ainda que a família toda está vibrando com o trabalho e que, inclusive, bate texto com a filha, Flora, que estuda teatro, e fica curiosa para saber dos spoilers.

O que mais instigou você desde o momento em que soube que viveria a Olívia? A Complexidade, a forma de evolução da personagem ao longo da trama. Porque ela não é uma coisa só, não é só a amante, ou a mãe, ou uma ex bailaraina administradora de companhia. Ela tem os conflitos com ela mesma, com o que esconde ou mostra. Uma mulher forte com suas fraquezas e desejos. 

Foto: Globo/João Miguel Júnior

Você é muito presente nas redes sociais, principalmente no twitter. Como tem sido a repercussão da personagem, o que as pessoas mais falam? Ultimamente uma torcida muito grande pra que ela termine a relação com o Joca (risos). Acho que muitos não entendem como uma mulher como ela ainda fica com um homem que a coloca em segundo plano. Falam muito também pra ela interferir na relação da Lou com o Renan. As pessoas estão agoniadas e com razão. De fora a gente percebe a relação abusiva que a filha vive. Eu acho que a Olívia vai lidar da forma que cabe a uma mãe, no momento certo.

A Olívia é uma mulher independente, bem-sucedida, mas aceita ser a “outra”, a amante, há quase 20 anos. Por que você acha que ela se submete a isso? É a fraqueza dela. Toda pessoa, por mais forte que seja, tem a sua carência. A dela está ali. A fragilidade dessa mulher incrível é esse relacionamento. Ela está errada, mas porque essa relação não é o que ela merece. Quem é casado é ele.

Em pleno século 21, a gente sabe que há muitas “Olívias” por aí. Hoje, ao viver essa personagem, você entende melhor isso ou não dá para entender? Eu acho que a gente não deve julgar. Eu apenas espero que as mulheres que vivem isso saibam exatamente o terreno que pisam. Que não são a prioridade, que o cara não vai separar da família e que elas merecem ser valorizadas por alguém que as ame e assumam, se esse for o desejo delas. Que esse modelo de relação faz parte de uma cultura machista e centrada no prazer masculino. Frida Kahlo disse “onde não puderes amar, não te demores” e eu acredito que esse amor é o amor próprio.

O que você acha que pode fazer a Olívia se “libertar” dessa situação, você torce para isso? Se eu te falar talvez eu dê um spoiler e vão me matar (risos). Eu torço demais, eu sou apaixonada pela Olívia, eu gosto demais dessa personagem! Eu leio as cenas com um sorriso no rosto, eu espero o bloco de capítulos não apenas como intérprete, mas como espectadora também. Eu, a Vitória e o Bruno, a gente se liga pra falar “você viu o que vai acontecer?” Tem sido um prazer. Posso te dizer que tem muita água pra rolar pela frente. É uma personagem que cresce lindamente.

Foto: Jorge Bispo

Você tem tido cenas emocionantes com a Vitória Bohn, algumas bem divertidas com o Leopoldo Pacheco, apesar da situação, como tem sido essa troca com eles? A Vitória foi um encontro, uma sintonia certa. É muito amor e muita parceria em cena e fora também. Me sinto cuidando um pouco dela nesse começo, acolhendo a menina que veio do Sul pra brilhar no Rio. Ela é incrível e tenho certeza que vai voar. O Leopoldo é um ator completo, maravilhoso, parceiro que tem um jogo de cena delicioso. Um privilégio fazer cena com ele, além de ser uma pessoa cem por cento do bem. E eu tenho que incluir o Kiko (Mascarenhas) aqui. Porque ele é um tesouro de ator e é uma delícia fazer cena com ele.

Você ficou quase 10 anos longe das novelas, passeando pelo teatro, direção no cinema... Acha que demorou para ter uma personagem do tamanho da Olívia numa novela ou veio quando tinha que ser? A gente não tem como dominar esse tipo de acontecimento. A Paula que saiu de Blumenau, Santa Catarina, com 17 anos pra estudar teatro em São Paulo diz a você que demorou muito, mais de 20 anos. A mulher que te digita essa resposta chegou num estágio de maturidade que diz tudo acontece no tempo certo. Voltar a trabalhar como atriz despertou um lado de muita felicidade. Mas fazer novelas faz parte do caminho, não é o objetivo final. A minha busca como atriz é viver e experimentar personagens interessantes de todas as formas e linguagens possíveis. Me comunicar dentro e fora da televisão.

Em casa, você e o Mateus trocam muito sobre os trabalhos de cada um, são críticos ou não… Ele tem acompanhado a sua Olívia? Trocamos sim, sempre, acompanhamos os trabalhos um do outro. A gente conversa muito sobre o ofício. No geral, um orgulho mútuo. A novela anterior, com Mateus, foi a primeira que as crianças assistiram, inclusive. E agora, também estão vendo Cara e Coragem. Às vezes Flora é quem bate texto comigo, só pra saber de spoiler (risos). Ficam super orgulhosos. É muito especial ver com eles, temos nos reunido em frente à TV.

Algum deles demonstra interesse pelas artes também? Flora já faz Tablado. Mas achamos muito importante que vivam a infância deles, já que estamos tão expostos. Queremos que aproveitem essa fase linda para brincarem, fazerem tudo o mais normal possível. São crianças amadas, felizes e livres pra ser e fazer o que for do coração deles.