A hora de Paulo Lessa, o Ítalo: Primeiro protagonista e a oportunidade de transformar vidas

Ator de Cara e Coragem exalta a representatividade, fala da alegria de ser pai de Jade e do trabalho na Casa Afrodai


15 de junho de 2022 01h33

Foto: Globo/Fábio Rocha

Por Luciana Marques

Na batalha há bastante tempo, desde quando decidiu trocar a carreira de modelo para estudar teatro, Paulo Lessa, de 40 anos, admite que não imaginava ser protagonista de uma novela tão cedo. Não por falta de preparação, entrega ou estudo. Mas por conta de oportunidade. E ela chegou esse ano na ótima trama das 7 Cara e Coragem, de Claudia Souto, com direção artística de Natália Grimberg, e o ator agarrou com unhas e dentes. Ele dá vida ao ex-segurança e instrutor de Parkour, um dos protagonistas da novela, junto com Taís Araújo, Paolla Oliveira e Marcelo Serrado. “Feliz demais! Não é uma conquista individual. Quando as pessoas se veem representadas, dá um estalo em suas vidas e as possibilidades de mudança são enormes”.

Na entrevista, Paulo fala também do momento único em sua vida pessoal. Há cerca de um ano, nasceu sua primeira filha, Jade, da relação de 15 anos com a dentista cabo-verdiana Cindy Cruz. Ele também se entusiasma ao falar dos planos à frente da Casa Afrodai, criada por sua mãe, a cabeleireira, trancista e mobilizadora social Idalice, a Dai, já falecida, uma das pioneiras na valorização da estética negra no Brasil. O ator quer transformar o espaço, na Lapa, reconhecido pela ONU e que ensinava um ofício a jovens e pessoas com vulnerabilidade social, em polo cultural e de empreendedorismo preto no Rio de Janeiro.

O que tem mais instigado você ao viver o Ítalo em Cora e Coragem? O que mais me instiga é o desafio do protagonismo. Eu nunca fiz um personagem deste tamanho, e o Ítalo é um personagem superativo, ajuda a contar a história de fato. E pra mim como ator é incrível ter essa oportunidade, de contracenar com tanta gente bacana, as pessoas que a gente admira. Além do trabalho como ator, essa missão social que o personagem tem, de chegar na casa das pessoas e elas se sentirem representadas, isso me instiga demais, pra mim é fundamental. 

Como você define o Ítalo, é um cara muito distante de você ou vê muitas semelhanças? O Ítalo é um cara muito inteligente, pragmático. Eu acho que a gente se assemelha em algumas questões, eu sou muito determinado com o que eu quero, tenho os objetivos muito claros. Mas o Ítalo é bem mais corajoso que eu (risos). Eu sou bem mais receoso, fico na minha, ele se joga bem mais nas coisas. Eu tenho coragem para outras questões.

Ítalo (Paulo Lessa) e Clarice (Taís Araújo). Foto: Globo/Sérgio Zalis

Como é a relação dele com Clarice, como ele lida com essa “morte”, esse desparecimento dela e se, de todas as investigações, ele passa a acreditar que ela pode estar viva? A relação com a Clarice é uma relação de amor mesmo! Uma admiração pela mulher incrível, linda, uma grande empresária, independente, poderosa. O Ítalo é apaixonado pela Clarice, não posso dar tanto spoiler do que vem por aí (risos). Mas o que eu sei até agora é que o Ítalo acredita que de fato a Clarice morreu, e sofre muito por isso, pela partida dela. Ele não tem dúvida disso, foi lá reconhecer o corpo no IML, que inclusive foi uma das sequências mais difíceis pra mim.

Você já conhecia o parkour, como tem sido essa imersão? Eu só conhecia o parkour pela internet, assisti vários vídeos impressionantes e com nível de dificuldade e risco muito alto. Isso sempre me impressionou, mas nunca imaginei que eu teria contato com esse esporte. E fiquei muito surpreendido! A galera é superbacana, apresentou o esporte de uma maneira muito leve, entendendo as limitações que cada um tem. Eu achei importante respeitar esses limites, mas a cada treino que passa você vai se encorajando e tentando novas coisas. Não estou em um ritmo de treino como no início da novela, das preparações. É legal que Cara e Coragem fala dessa vida dos dublês e é muito bacana poder compor um personagem que tem a participação fundamental do meu dublê que é o Alexandre Roque. Eu brinco que ele entra com os saltos e com a parte radical e eu entro com o drama. 

Em termos de representatividade, como você recebe o fato de, entre os quatro protagonistas, a gente ter dois atores pretos, você e Taís? E como é fazer par romântico com ela? São fundamentais! Já falei isso algumas vezes e acho fundamental a gente conseguir se ver nos produtos. O nosso povo até pouco tempo atrás não se enxergava nos produtos. É legal a gente conseguir se ver, projetar nossos sonhos nesses personagens. Eu acho que tornar os sonhos mais possíveis e mais próximos da gente. E sobre a Tais, ela é um ícone, sou fã da Tais Araújo. Fazer par com ela tem sido incrível, uma parceira maravilhosa, me ajuda muito todos os dias. A gente conversa muito sobre a trajetória dos personagens e vai se acertando a cada cena, tem sido realmente maravilhoso trabalhar com ela.

Você vem de anos de batalha, primeiro como modelo, depois ator. Como você analisa esse momento, essa oportunidade como protagonista, demorou, chegou no momento certo ou é algo que você via ainda distante? Olha, eu já estou há bastante tempo na estrada e, sinceramente, não via uma possibilidade de fazer um protagonista de maneira imediata. Não é toda hora que aparece um personagem desse pra gente, mas ao mesmo tempo eu já venho batalhando há muito tempo. E de certa forma veio no momento certo, que eu me sinto preparado pra fazer o personagem, motivado até pela paternidade. A Jade chegou na minha vida e me deu esse ânimo, esse gás. E o Ítalo veio no momento certo, em    que estava batalhando, me aprimorando, estudando, me preparando para quando a oportunidade chegasse. E eu acho que a oportunidade chegou! Estou feliz demais, pois não é só uma conquista individual, mas uma conquista de muita gente. Quando as pessoas se veem representadas dá um estalo na vida delas e as possibilidades de mudança são enormes.

De que forma a paternidade transformou a sua vida e o seu casamento? A paternidade é algo avassalador, muito forte, é uma transformação a cada dia. Minha filha tem um ano e transformou minha vida de um jeito incrível. Ela me dá um gás, eu tenho um estímulo a cada dia. Não tá sendo fácil, por exemplo, fazer a novela e ter a rotina que é muito cansativa, mas que muitas vezes eu supero por uma simples lembrança dela. Agora é um desafio diário enquanto pai, família e serviu pra eu e Cyndy nos aproximarmos mais ainda. A gente vem curtindo muito essa aventura de sermos pais, a descoberta de algo novo todo dia, a gente desperta um amor que a gente não tinha noção. É muito emocionante e desafiador, a gente supera muitas coisas pelo amor que você sente por aquele serzinho e a família que se forma.

Como está sendo o seu trabalho à frente da Casa Afrodai, um legado de sua mãe, e qual a importância dessa casa na sua vida e para a história da cultura, arte e estética afro-brasileira? Está sendo maravilhoso conseguir tocar o espaço cultural com tanta história. Um lugar que foi o salão afro da minha mãe, de muita história, de formação, de conscientização. E a gente conseguir retomar esse espaço e contar todo esse processo em uma nova versão, fazendo essa conexão entre passado, presente e futuro, é uma resposta. Mas é uma resposta que eu tenho o maior prazer de assumir. Acho que é importante ter os espaços culturais, o fortalecimento da nossa cultura, valorização da nossa cultura, e a proposta lá é essa, é valorizar a cultura afro-brasileira. Retomar as atividades que minha mãe fazia, como a formação de cabeleireiros afro, por exemplo. Mas nessa nova roupagem também existem questões que eu acredito, mais a minha praia ali. Tem o audiovisual, o teatro, a dança. Então a ideia é que a casa tenha diversas atividades e seja um polo cultural, um polo de empreendedorismo preto no Rio de Janeiro. Espero que a visibilidade da novela facilite um pouco para contarmos essa história para mais pessoas, como atrair novos parceiros interessados em estimular a cultura no Rio de Janeiro.