Alba Michele lança o livro Terra Prometida e traz assuntos pertinentes em comunidades cariocas

Com vivência de 44 anos em favela, autora faz refletir sobre temas como religião, tráfico, gravidez na adolescência


20 de abril de 2024 02h59

Nas páginas do livro roteirizado Terra Prometida, Alba Michele compartilha como é ter vivido mais de 40 anos em uma comunidade carioca. Ao abordar temas delicados como tráfico, religião e gravidez na adolescência, a autora almeja levar os leitores a algumas reflexões, convidando-os a romper preconceitos arraigados.

Na obra, ela compartilha como cada personagem, apesar de nascido de sua imaginação, mostra a riqueza e a complexidade da vida real nas comunidades. A voz de Alba é uma mistura de paixão pela escrita e pela arte, alimentada por uma jornada que a levou por diversos caminhos espirituais e culturais.

Em sua escrita, ela desafia estereótipos e busca unir as diferenças através do amor e da compreensão, uma mensagem que ressoa em cada linha da obra.
O livro Terra Prometida será lançado dia 8 de maio no site Emó Editora ( https://emoeditora.com.br )

Quais foram suas principais inspirações para escrever Terra Prometida?

Com certeza, minha vivência de 44 anos no lugar onde nasci, uma comunidade do subúrbio do Rio. Mas uma coisa que me tocou muito foi o ano de 1995, quando um pastor chutou a imagem de Nossa Senhora Aparecida. Eu tinha 21 anos, era católica na época. Aquilo não fazia o menor sentido, pois minha família era cercada de misturas religiosas, inclusive meus amigos com seus diferentes credos. Pensei que um dia poderia falar sobre esses temas, sem a menor noção de que 30 anos depois seria escritora.

Como você desenvolveu os personagens principais da história?

Eu brinco que não escrevo, psicografo (risos), porque não tem uma imagem de pessoa real que eu tenha visto a história para eu contar no livro. Não nasci num condomínio do Leblon, nasci na favela, lugar cercado de gente diferente, de riquezas históricas, culturais, humanidade e violência. Por isso, apesar de parecer muito real, tudo nessa obra se trata de ficção.

O que espera que os leitores absorvam com as experiências e desafios enfrentados pelos personagens?

Que expandam suas consciências saindo da bolha do preconceito. Nesse livro trato sobre temas como a solidão da mulher negra, porque eu não sei o que é racismo. Eu sou branca, mas sou casada com um homem negro não letrado e tenho duas filhas, uma branca e uma negra, que tem consciência de sua cor. Então, contei com a colaboração da Gilmára Souza, que aborda essas pautas de diversidade e inclusão. Trato também de temas familiares, gravidez na adolescência e mãe solo. A Larissa Lafayette, que é terapeuta em constelações familiar, trouxe esse olhar diferenciado para a trama. Eu tive um marido para criar minhas filhas, não sei o que é ser mãe solo. A vida é cheia de complexidades e cada um de nós passa por um deserto. Não é sobre o que fizeram com você, mas como você lida com aquilo que fizeram de você.

Há alguma mensagem subjacente no livro?
Sim, que todos nós temos um deserto, que todos nós temos dores, histórias alegres com finais felizes e outros não. Mas que a vida é pra ser vivida. E buscar o caminho da fé!
Vai ter gente amando a pastora, a mãe de santo, se apaixonando pela Cléo que é uma mulher trans, simpatizando com o traficante… No final, entender que todos nós nascemos humanos, mas se tornar um ser humano precisa de virtudes, valores e sabedoria.