Bruno Ferrari: “Acho os 40 a melhor idade do homem, a gente sabe o que não quer”

Ator fala do sucesso de Salve-se Quem Puder e da preocupação em tempos de pandemia com o país e a cultura


30 de abril de 2020 00h35

Foto: Vinícius Mochizuki

Com 18 anos de carreira, Bruno Ferrari é atualmente um dos atores mais requisitados de sua geração. Ele estreou na em novelas na Globo, em Sabor da Paixão, em 2002, depois passou 10 anos na Record, fez muitas peças e voltou para a Globo em Liberdade, Liberdade, em 2016. Desde então só tem feito personagens que se destacam. Até a pausa ocorrida pela pandemia do coronavírus, o ator estava no ar como o empresário Rafael, noivo de Kyra (Vitória Strada), em Salve-se Quem Puder. “Eu corri atrás, me experimentei muito na carreira e as coisas foram acontecendo. Mas acho que uma parte é trabalho, outra é sorte”, avalia.

Casado com a atriz Paloma Duarte, com quem tem Toni, de 3 anos, Bruno afirma que tem focado muito na família nesse período difícil de quarentena. Do tipo paizão, o ator tem ficado direto com o filho, tanto que só conseguiu conversar com a gente em live no nosso Instagram, nesta quarta, 29, mais à noitinha. “A gente é tudo pra ele nesse momento. Neste aspecto está sendo muito gostoso”, conta. Sobre tudo isso o que estamos vivendo, Bruno se diz triste com tantas mortes e apreensivo com o futuro das artes e a retomada das atividades. “O nosso trabalho é de reunir pessoas, seja no teatro, nos estúdios. Então, tenho medo de como será essa volta”, diz.

Como tem vivido essa quarentena? Eu tenho focado muito na minha casa e na minha família. Procuro ver o mínimo de notícia, pelo menos para me manter informado, acho que para não entrar em desespero. Mas acredito que vai demorar um tempo ainda. O meu maior medo é como voltar. Não sei se eu vou sair na rua tão à vontade de sair abraçando as pessoas, a gente não sabe muito bem o que vai acontecer, como vai ser essa volta. Então, eu tenho focado muito na minha família, eu já sou uma pessoa caseira, eu gosto de ficar em casa.

Tanto você quanto Paloma estava gravando muito antes do início dessas pandemia. Toni é que deve estar curtindo a presença direto de vocês me casa, né? Óbvio que ele sente muito mais a nossa presença agora, a gente está em casa o tempo todo com ele. A gente tem uma pessoa que ajuda a gente, que não está aqui com a gente agora. Então a gente está dormindo com ele, ele está sem aula, a gente está passando o dia inteiro com ele, a gente é o entretenimento dele.

Educar é muito difícil. Você a Paloma conversam muito sobre isso, sobre qual o homem que gostaria de colocar na sociedade, se preocupam com isso? Me preocupo muito. A Paloma já tem mais experiencia do que eu, ela já vem com duas na minha frente. Mas eu sei, pelo emnos as crianas que eu conheço, parece que esta geração está vindo mais especial. São crianças mas sensíveis. O toni é uma criança extretamente sensível, se emociona muito fácil. A gente tenta trazer amor para ele até não poder mais. Ele é uma criança muito amorosa. Eu acho que eu tento passar pra ele é isso, amor e que ele se sinta protegido. Eu acho que isso faz com que talvez ele se torne uma pessoa boa, elhor, mais empatia, cuidado em relação ao outro. Acho que é isso que a gente prega na vida dele. Mas não existe uma fórmula... E é impressionante como eles já vêm com personalidade.

O público estava amando Salve-se Quem Puder. Como é pra você fazer parte desse trabalho? Eu gosto muito de fazer a novela, eu me divirto muito. Eu entro no estúdio muito feliz. Eu acho que o Dani escreve numa linha quase que s vezes vai para um lugar fora da realidade, e isso vai te dando uma liberdade também na interpretação. Então tira um pouco esse peso, esse compromisso do realismo, dá pra gente brincar, criar mais.  Então pra mim essa novela é uma grande brincadeira.

E a disputa Kyrael (Kyra e Rafael) x Alyra (Alan – Thiago Fragoso e Kyra)? Eu torço pra Rafael, é óbvio (risos). Ele é muito apaixonado. Tem duas coisas. Mesmo acreditando que ela tenha morrido, ele não se envolve com outra pessoa, ele continha na busca dela. Então isso acho que faz com que o público olhe de uma forma diferente para esse cara, ele gosta dela. E no caso dela com o personagem do Thiago, eles estão construindo uma relação. O que pé mujito legal também, as pessoas estão podendo acompanhar esse crescimento dessa relação. Então isso faz com que as pessoas fiquem divididas. São dois caras legais, dois caras batalhadores, bom caráter e gostam dela, de verdade. E fica difícil a disputa.

Rafael (Bruno Ferrai) e Kyra (Vitória Strada). Foto: Globo/Camilla Maia

Como você acha que Rafael vai reagir ao saber que ela está viva? Eu não sei, já me perguntaram isso. É difícil, porque como que ele aceita isso, é muito delicado isso. É óbvio que ele vai compreender tudo o que aconteceu. Mas também não existiu uma confiança dela de falar para ele. Não sei como vai ser isso, de verdade, esse reencontro.

Como você avalia sua carreira, tudo aconteceu como tinha que ser? Acho que uma parte é trabalho, outra é sorte. Acho que tem os dois lados da moeda. Eu vejo atores maravilhosos que eu conheço que as vezes não tem tanto trabalho. Pra mim as coisas foram acontecendo de forma muito natural. Quando eu comecei fazer teatro, eu não tinha pretensão de fazer TV. A televisão apareceu na minha vida. E, aos poucos, eu fui fazendo e fui gostando. E fui percebendo que algumas vezes gostava de fazer até mais qua teatro. Depois voltava para o teatro e me apaixonava pelo teatro. Eu fui contratado da Record por 10 anos e tive a oportunidade de fazer muita peça. E eu fazia tudo o que aparecia de teatro, eu queria fazer. Eu pagava pra fazer, fazia de graça, convidava amigos. Eu me experimentei muito nessa época. Enfim, eu corri muito atrás, procurei. Tive sorte de trabalhar com muitas pessoas legais no início. Comecei com Domingos Oliveira, Eduardo Voisk, o antonio Abujamra. Isso vai dando caminhos legais, interessantes.

E a parceria com a Paloma, vocês trocam muito em relação à profissão? Não tem como não falar disso em casa. Agora a filha dela também, a Clarinha. Ela já queria ser atriz há muito tempo. Paloma tem uma coisa meio do sangue dela, já vem de família, tem um talento nato, muita vocação. Ela é uma atriz brilhante, eu já era fã antes de conhecer, antes de ser amigo. E a gente troca muito. Várias cenas que eu faço, eu peço para ela ver, as vezes eu leio texto, mostro algumas cenas. Ela vai por uns caminhos super malucos, interessantes, que eu adoro. Ela também pede para eu assistir cenas dela, tem muita troca, lógico.

E falando um pouco de idade. Você está com 38, indo para os 40, como lida, alguma crise? Eu queria muito ter cabelo branco, tava esperando ele anos e anos. Vieram, tem um pouquinho, veio depois do filho. Eu acho que a melhor idade do homem é os 40, não tem jeito. Em relação a maturidade, a tudo. Acho que 40 anos é o ápice do homem. Saber o que não quer é o mais importante.

Como vê esse momento difícil para os trabalhadores da cultura e quase nenhuma ação do governo? Eu acho que é uma das classes mais afetadas, porque a gente trabalha para reunir gente. O nosso trabalho é reunir gente, a gente reúne 200, 300 pessoas dentro de um teatro. Até numa gravação, você reúne 100 pessoas no estúdio. Então foi um dos primeiros que parou e talvez seja um dos últimos a voltar. Eu acho que o governo tinha que dar uma assistência para as pessoas. Não só em relação a trabalhadores da cultura. Mas o governo está com tanta raiva da gente, porque a gente não gosta dele, boa parte pelo menos. Então eles começam a negar e não dar nenhum tipo de suporte para quem trabalha na área. E deveria ter, tem pai de família.

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