Bel Moreira, de Poliana Moça, quer novos desafios: “Contar histórias de mulheres que amam mulheres”

Atriz festeja destaque em trama teen e revela ter sido libertador assumir a bissexualidade


07 de outubro de 2022 01h03

Foto: Thiago Dias

Cria do teatro, Bel Moreira, de 23 anos, já ostenta no currículo sucessos não só nos palcos. Atualmente, ela interpreta a Raquel na novela teen Poliana Moça, exibida no SBT. “Recebo muito carinho e encorajamento de quem me acompanha. Isso me inspira e movimenta. Quero que se orgulhem de mim como me orgulho deles”, afirma.

Feliz com as conquistas na carreira, Bel conta que encontrou na arte um dos caminhos para lidar com o TDAH - Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade -, diagnosticado aos sete anos, de forma leve. “Minha mãe e meu pai nunca se abateram com isso. Deixaram claro que meu potencial era enorme e podia alcançar tudo que eu quisesse”.

E assim Bel realmente tem feito, sem freio. Suas redes sociais bombam com mais de 2 milhões de seguidores, atraídos por sua trajetória artística e engajamento social. No bate-papo, a atriz que namora a produtora Halana Lacerda, conta como foi libertador assumir a bissexualidade. Ela também fala sobre a importância do apoio da família. “Eles são meu tudo”.

Você atuou em As Aventuras de Poliana e agora em Poliana Moça com a mesma personagem. Acredita que Raquel está mais madura nessa segunda trama? Sinto que a Raquel amadureceu e mudou bastante de uma temporada para outra. O que mais me impressionou é a segurança que ela conquistou. Uma boa representação disso é seu cabelo. Em As Aventuras de Poliana, durante um período de rebeldia de Raquel, a personagem Brenda pergunta a ela se não tem vontade de cortar o cabelo bem curtinho. Raquel diz que é muito medrosa pra isso. Em Poliana Moça seu visual está totalmente diferente. Isso inclui o cabelo curto, bagunçado, algo que previamente não tinha coragem de fazer!

Fazer uma personagem por muito tempo cansa, deixa de ser um desafio? Jamais! Eu amo a experiência de acompanhar o crescimento da personagem. Ela faz parte de mim e eu faço parte dela. O desafio é não se deixar levar pelo costume. Embora esteja interpretando Raquel há 5 anos, tem sempre algo para adicionar. É muito especial ver também o meu próprio crescimento e evolução enquanto atriz através dela.

Com o fim de Poliana, quer dar um tempo de tramas para um público mais jovem? As gravações de Poliana Moça terminam entre outubro e novembro desse ano. Não sei se quero necessariamente dar um tempo. Gosto muito de temáticas e do público mais jovem, o carinho que a gente recebe deles é muito especial. Tenho muito apreço por isso. Mas com certeza, buscar tramas e personagens que me coloquem em desafios novos seria muito interessante. Sempre fui cuidadosa na escolha de meus trabalhos. Não gosto de dar passos maiores do que as pernas. Sinto, sinceramente, que nesse momento estou pronta para personagens que me tirem da zona de conforto. Quero um desafio! Se for pra ser exata, tenho muita vontade de contar histórias de mulheres que amam mulheres. Sejam essas histórias para um público mais jovem ou não.

Foto: Thiago Dias

Como é a repercussão do seu trabalho entre os jovens e adolescentes nas ruas e nas redes sociais? Acho que eles podem responder isso melhor do que eu, mas o que eu vejo entre muitos é um carinho por me posicionar e me assumir. Acho que minha geração, a geração Z, precisa disso. Eu, pessoalmente, não me interesso por artistas omissos. Claro que estando dentro dessa indústria, eu entendo perfeitamente quem prefere manter seus pontos de vista pra si. É difícil mesmo. Mas voltando a pergunta, recebo muito carinho e encorajamento de quem me acompanha. Isso me inspira e movimenta. Quero que se orgulhem de mim como me orgulho deles.

Trabalhar para um público mais jovem, em fase complexa, de autoceitação, faz você se censurar de alguma forma nas redes sociais? Eu costumava me censurar muito por esse exato motivo. Isso acarretou numa vontade de sumir das redes sociais. Parecia que eu tinha que vestir uma personalidade tragável para outros. Era desgastante e triste. Tomei uma decisão quando me assumi: nunca mais me esconder. É claro que não saio postando minha vida inteira, até porque priorizo minha privacidade acima de tudo. Porém é importante pra mim ser sincera. Se alguém gostar do meu trabalho, do meu estilo de vida ou só achar divertido me acompanhar, que seja por quem eu sou de verdade.

Como o público reagiu assim que revelou a sua orientação sexual? Foi tranquilo demais! Nunca esperei por isso. Eu tinha muito medo e percebi que era à toa. Meu público me fortaleceu muito. Recebo constantemente mensagens dizendo que ajudei alguém a se assumir pra família ou simplesmente entender o que sente. É muito especial. Acho que é uma das minhas maiores alegrias da vida ouvir esse tipo de coisa.

Como é a relação com a sua família? Minha família me apoia em tudo. Tudo mesmo. Eles acreditam tanto em mim que às vezes tenho que lembrá-los que ainda tenho muito chão pela frente. Quando era criança, era considerada uma criança "problema". Fui diagnosticada com TDAH aos 7 anos e em muitas escolas isso parecia significar falta de futuro. Minha mãe e meu pai nunca se abateram com isso. Deixaram claro que meu potencial era enorme e podia alcançar tudo que eu quisesse. Hoje em dia, tudo que quero conquistar é com eles em mente. Minha família é meu tudo. Sou grata pelo tanto que fizeram por mim e pelos meus sonhos todos esses anos. Não estaria aqui, dando essa entrevista, se não fosse por eles. Não existem palavras para explicar a benção que é ter uma família que te ama, te apoia e que tá sempre do seu lado. Sou muito sortuda.

Namorar uma mulher mais velha é desafiador por conta do conflito de gerações? Eu amei tanto essa pergunta! Dei uma boa risada quando li. Minha namorada é só seis anos mais velha do que eu, mas é o suficiente pra zoá-la com toda e qualquer atitude millennial que ela toma. Nossa relação é supertranquila. Nunca me senti da forma como me sinto com ela. É claro que a diferença de idade influencia. Ela tem mais maturidade que eu pra várias coisas, mas nada é muito desnivelado entre a gente. Ela entende, me ajuda e me dá todo suporte. Encontrei alguém que ultrapassa até as minhas maiores expectativas. É bom demais amar assim.

É possível dar um spoiler sobre a sua vida quando acabar Poliana Moça? Sou péssima com spoilers. Tanto de tramas, quanto de vida real. O que posso dizer é que quero focar em projetos pessoais. Sonhos que posterguei por não ter tempo, outros que não tinha coragem. Estou num momento muito bom da minha vida. Quero aproveitar, confiar em mim e botar a cara a tapa. Dizem que a casa dos 20 é pra isso, não?

Como você imagina a sua carreira e a sua vida daqui 20 anos? Uau, daqui 20 anos! Tenho muitas vontades pra esse período da minha vida, alguns parecem impossíveis. Um dos meus maiores sonhos é ter um espaço onde jovens possam aprender a gerir suas próprias carreiras. Ninguém te prepara pra ler contratos, pra gerir sua vida profissional. Comecei trabalhando com minha mãe, mas desde os 18 anos faço tudo sozinha. E é, muitas vezes, assustador. Gosto da independência, mas se pudesse aprender sem tantos trancos e barrancos seria bem melhor. Quero poder oferecer isso pra alguém um dia. É claro que pra além disso, quero ser uma atriz e cantora reconhecida pelo meu talento, criatividade e autenticidade. Quero ser mãe, ter uma família, cuidar dos meus filhos, cachorros, gatos, tudo isso! Talvez, daqui 20 anos eu leia essa entrevista de novo e dê uma alta gargalhada. Pense como eu era sonhadora, como eu estava errada. Não duvido nada de crescer e ver todos os meus sonhos mudarem drasticamente. Mas atualmente é isso que eu quero, é pra isso que eu trabalho. Quero que a Isabella do futuro tenha possibilidades, escolhas. Quero mesmo é que ela seja feliz e não se perca de si.