Ana Terra Blanco exalta a força feminina de Renah, em Gênesis: “Ela mudou a minha vida”

Atriz festeja ainda o lançamento do álbum Panapanã, da banda Fulanos e Ciclanos, com o marido, Gabriel Chadan


20 de janeiro de 2021 23h31

Foto: Rodrigo Costa

Por Luciana Marques

*A entrevista completa está disponível no vídeo, abaixo.

O momento é de colheita de frutos para a atriz e cantora Ana Terra Blanco, a Terra. Na TV, ela encara um desafio e tanto: dar vida à Renah, primeira filha mulher de Adão (Carlo Porto) e Eva (Juliana Boller), em Gênesis, nova superprodução bíblica da Record, que alcançou quase 18 pontos de audiência em sua estreia, nesta terça, dia 19 de janeiro. Renah é guerreira, corajosa, defende a mãe e bate de frente com o pai e o irmão Caim (Eduardo Speroni). “Desde de que eu vivi essa personagem, a gente gravou no final de 2019, ela mudou a minha vida, me inspira”, diz Terra. Na trama, a atriz que estreou nos palcos no musical Era no Tempo do Rei, com direção de João Fonseca, em 2010, também poderá ser vista soltando a voz.

Da família de cantores – ela é neta do compositor Billy Blanco -, Terra comemora também o lançamento do primeiro álbum da banda Fulanos e Ciclanos, formada por ela e pelo marido, o ator e músico Gabriel Chadan. O disco se chama Panapanã, que em Tupi significa borboleta. “Sabe aquele friozinho de borboleta no estômago? O disco causa isso na gente”, conta ela. O álbum será duplo, com oito faixas cada, e tem participações como a do rapper carioca MV Bill, na faixa Mais Uma Mãe que Chora. “Um lado do disco traz energias sociais, existenciais, os conflitos de alta potência e no outro a gente lida com as coisas mais coloridas da vida, o amor, o sexo, a diversão, a vibe, o rolê, a loucura”, explica Gabriel.

O primeiro single do disco, Marry? Wanna?, em inglês, composto por Terra, será lançado no próximo dia 29 de janeiro, junto com um clipe. Serão no total seis canções lançadas, uma por mês, no canal da banda no YouTube e em todas as suas plataformas digitais. Na entrevista, tanto Terra quanto Gabriel babam pela filha, Gaia, de 2 anos, que fez até uma participação no álbum dos papais. Aproveite e ouça aqui Marry? Wanna?

Renah (Ana Terra). Foto: Edu Moraes/Record TV

O que você mais aprendeu com a Renah e que vai levar para a sua vida? Com a Renah eu aprendi a ter mais coragem. Ela é uma mulher de fibra, forte, que defende as irmãs, a mãe, os direitos dela. Ela percebeu o quanto não era justo as mulheres fazerem uma coisa e os homens não precisarem fazer, tratarem igual lixo, como se fosse obrigação. Então ela começou a questionar tudo isso. Eu gosto muito dessa força, dessa coragem que ela tem.

A gente pode dizer, então, que ela foi a primeira feminista do universo? A mãe é mais submissa, não veio com esse fogo dentro dela. Então eu acho que a Renah pegou pra ela isso de defender as irmãs, a mãe, ela não quer ser submissa. Realmente a gente teve que imaginar, a gente não teve livros de história para estudar. Então foi tudo o que está escrito para a novela e a nossa imaginação. Eu imaginei ela uma mulher muito forte, decidida. Independente dos perigos, ela bate de frente com o pai, o Adão, e com o irmão Caim, que não presta. É muito importante humanizar essas pessoas. Humanizar o Adão, a Eva, porque ela só tinha ele, dependia dele. É muito importante ter essa trama, mostrar o machismo. Tem que ter coragem, lutar, porque a mulher é forte, é igual.

E como foi compor o tipo físico da Renah, ela é grandona, durona... Era tudo braçal, a gente teve uma preparação intensa. Eu tinha acabado de parir, a Gaia estava com cinco meses. Eu levei ela para as viagens. Eu acho que as preparações ajudaram muito, eu já entrei com o corpo mais duro, ela puxou mais ao Adão, com o corpo grande. E eu sou grandona. Você tá numa época que tem mamute, elefantes, tigres, ela tinha que ser casca grossa. E eu mergulhei nessa, descalça, não queriam deixar, eu pedia, deixa eu sentir a terra, o chão, eu gosto muito de sentir a terra. Foi uma experiência muito legal.

Renah (Ana Terra). Foto: Blad Meneghel/Record TV

Qual a sua ligação com religião? Eu tenho um fechamento com Deus e Jesus. Eu converso com eles direto. A minha mãe era missionária, a gente sempre leu a Bíblia. Então, pra mim, ele é um amigo, eu oro, agradeço. Mas eu sou muito ligada em coisas energéticas, de atrair, a lei da atração. Então é um mix de coisas. Eu não vou para uma igreja específica, mas eu acho que a vida é um milagre. Não tem como não acreditar em Deus, em alguém maior que fez tudo isso, porque é muito lindo. Dá até vontade de chorar você pensar numa criança crescer na barriga de uma mulher, nascer... É emocionante! Eu tenho muita espiritualidade.

Falando em gerar, em maternidade, o nascimento da Gaia transformou totalmente a sua vida? Transformação total. Eu não lembro quem eu era antes do nascimento da Gaia. Não tem como explicar, só vivendo para saber. Você ter que cuidar de um ser humaninho, ver crescer... Me mudou completamente. Eu acho que eu virei uma mulher muito mais forte, mais corajosa. Ela foi uma presente na nossa vida. Essa geração nova está vindo para mudar o mundo, eu acho.

Como é a divisão de você e do Gabriel na criação da Gaia, nos afazeres domésticos? Tudo igual! Ele faz comida, dá comida pra ela, dá banho, troca fralda. Ele é paizão! Tanto que quando eu fui gravar Gênesis, o Gabriel foi comigo para cuidar dela. Ah, vamos levar babá, não tem babá, é pai, ele cuida. Ele estava também entre trabalhos, mas ele conseguiu cuidar dela e eu fiquei mais calma. Lógico que a gente tem muito do machismo enraizado desde que a gente nasceu. Às vezes, até eu me vejo querendo cuidar mais, ah, não, cuida de mim também. Cuida de tudo. Realmente a gente divide os pesos da vida e as alegrias também.

Ana e Gabriel com a filha, Gaia. Foto: Reprodução Instagram

Falando no Gabriel, você e ele estão lançando o álbum Panapanã, da banda de vocês, Fulanos e Ciclanos. Contem um pouco pra gente desse trabalho...  Terra – Panapanã significa borboleta em tupi.

Gabriel – Esse é o primeiro álbum completo depois de 10 anos de projeto. A gente decidiu há uns dois anos começar a produzir. O álbum já traz um sentido de obra fechada, um conceito mais elaborado, inclusive na sonoridade que a gente veio buscando e a independência de se autoproduzir. E a gente decidiu esse nome porque algumas ideias que permeiam o disco tem muito a ver com o sentido da borboleta. Mas como borboleta não ia cair tão bem, a gente foi atrás de referências e achou esse Panamanã, que tem uma sonoridade muito brasileira, que é uma inspiração na língua indígena. E aí a gente tem esse lance do efeito da borboleta dentro do nosso estômago...

Terra – Sabe aquele friozinho de borboleta no estômago? O disco causa isso na gente.

Gabriel – Como ela bate, como elas voam diferente em determinadas situações. Esse é um dos sentidos e também o do efeito borboleta, da teoria do caos, aonde mínimas ações, mínimos detalhes, ocasionam coisas grandes e importantes.

Terra – Nós dois produzimos tudo em casa, na nossa home studio.  E foi por acaso, por causa da pandemia, então a gente foi botando tudo que tava dentro da gente pra fora e saiu esse disco duplo com oito faixas cada lado. Tem muito nossa alma e nosso coração. Músicas antigas, novas, que a gente já tinha no caderninho.

Ana e Gabriel durante a produção de Panapanã. Foto: Thiago Camargo

Gabriel – Foram oito meses direto escrevendo, produzindo arranjos, gravando todos os instrumentos. A gente tem participações pontuais, um guitarrista numa música, um trio de power rock numa outra. A gente tem também a participação de três grandes nomes da música no vocal, que são de extrema importância na minha vida e na vida da música no Brasil. MV Bill é um deles. A gente tem uma amizade de muito tempo com o Bill, de 10, 11 anos. Eu digo que ele é como se fosse um mestre, um curador. É algo espiritual, de vida, amigo e uma referência gigantesca. Então ele é um cara que sempre nos instruiu, sempre teve do nosso lado dando dicas, conversando e abrindo espaço. E depois de 10 anos a gente se sentiu à vontade de convidá-lo, ele topou na hora e a música é realmente uma obra diferente. O nome é Mais Uma Mãe que Chora, que aborda essa realidade de vidas interrompidas e o processo que isso gera.

Qual vai ser a primeira música lançada? Gabriel - Marry? Wanna? A gente lança no dia 29 de janeiro, ela é toda em inglês, a letra é da Terra, ela escreveu há alguns anos.

Terra - Fala sobre a vida de uma menina leve, livre, incrível. E na música eu dou encorajamento para ela ser quem ela é.

Gabriel - Pra nós a música é muito verdade, é política. O ideal seria a gente fazer música só para celebrar, mas existe um mundo aí muito doido, as coisas acontecendo e a gente precisa tocar nesses assuntos. E a gente aqui em casa, numa certa densidade, profundidade, foi construindo um discurso bem interessante. Tem questionamentos bem legais no álbum.

Ana grava clipe. Foto: Thiago Camargo

E a Gaia participou de alguma forma? Participou! Com a boca, ela fez um beat, porque ela gosta muito de uma das músicas e ficava o dia inteiro, “tum tum tá, tum tum tá”. Aí esse pai doido já gravou ela fazendo, colocou no machine e virou o beat de uma música nossa. Ela tá presente assim. Ela já canta todas as músicas do álbum, a gente fica o dia inteiro mixando, já sabe tudo.

Foto: Rodrigo Costa

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