Conheça Lina Mendes: A voz da princesa Ranya, de She-ra e de mais de 140 personagens em filmes e séries

A atriz, que também é cantora soprano, diz que a educação musical no Brasil é fraca


12 de janeiro de 2022 00h33

Foto: Rejane Wolff

Nunca no Brasil se viu tantas séries e filmes, principalmente com a facilidade agora do streaming. Mas você já parou para pensar de quem são as vozes por trás dos personagens nas versões dubladas? Uma delas ou, melhor, centenas, são de Lina Mendes, de 34 anos, atriz, dubladora e cantora soprano, natural de Niterói.

Ela é a voz da Princesa da Disney Raya do filme Raya e o Ultimo Dragão, de She-ra, na série americana de desenho animado She-ra e as Princesas do Poder, de Violeta do filme Os Incríveis, de Coraline do longa de animação Coraline e o Mundo Secreto, e de Izzy de My little Poney, só para citar algumas produções. No total, são mais de 140 dublagens entre filmes, séries, novelas, animações e games. “Quando faço as vozes, as pessoas reconhecem, pois muitos personagens fizeram parte da infância delas”, conta.

Cantora soprano, com formação musical na UFRJ, já participou de espetáculos aclamados como O Fantasma da Ópera, em 2018 e 2019, em São Paulo. No exterior, integrou a Accademia Teatro Alla Scala, em Milão, e o Centre de Perfeccionament del Palau de les Arts, em Valência, na Espanha, onde fez seu debut internacional nas óperas La Bohème e Idomeneo.

No Brasil, a gente não tem tanto o costume de ir a óperas e até de conhecer os profissionais da área. Como é viver disso? A educação musical no país é realmente muito fraca. Além disso, trabalhar com arte no Brasil de maneira geral requer muita força de vontade e muitas vezes, buscar outras opções de trabalho, como por exemplo, na pandemia. Apesar da falta de investimento no setor, existe um mercado grande, artistas capacitados e um público ávido. Recentemente, fiz duas óperas, The Rake’s Progress, no Theatro Municipal de São Paulo e Il Signor Bruschino, no Theatro São Pedro e ambas foram um sucesso de público. Eu fiz duas especializações em ópera fora do país, uma na Itália e outra na Espanha, e me apresento regularmente no exterior também.

Foto: Rejane Wolff

Você é a dona da voz de dezenas de personagens que vemos na TV, cinema, streaming, games. Como você faz para “criar” suas interpretações? Para ser um bom e versátil dublador é preciso ter uma boa base vocal e ser ator, buscando sempre se atualizar seja fazendo teatro ou especializações. Essa base nos prepara para o ritmo de trabalho que pode ser intenso. E a preparação é especialmente importante para enfrentar personagens que gritam muito ou que exigem um tipo de voz mais aguda ou mais pesada, rouca, sem que isso nos prejudique e torne a interpretação verossímil. Quando eu comecei, eu não gostava de me assistir. Mas com o passar do tempo, passei a lidar com isso e usar como uma ferramenta de aperfeiçoamento. 

Como é o mercado da dublagem no nosso país? O mercado de dublagem no Brasil cresceu muito nos últimos anos, juntamente com as plataformas de streaming e com a acessibilidade que a dublagem traz, tornando-a ainda mais necessária.

Pouco sabemos o rosto das pessoas que dublam no Brasil. Você chega a ser reconhecida pela voz? Não de imediato, mas quando eu faço a voz de alguns personagens, as pessoas logo reconhecem. Elas adoram e ficam impressionadas, pois muitos desses personagens fizeram parte da infância delas. É gratificante pra mim.

Em tempos de redes sociais, como é sua relação com os fãs dos projetos que você dublou? Eu adoro receber o carinho dos fãs. Acho muito bacana esse reconhecimento. Sempre que possível, respondo as mensagens, interajo e alguns viram até amigos que passam a me acompanhar não só na dublagem, como também na música.