Murilo Rosa sobre o esperado reencontro de Mário e Helena: “Cenas intensas, ele tem mágoa profunda”

Ator fala da boa fase do personagem na trama das 7, da chegada aos 50, da vida em família e de projetos no teatro e no cinema


18 de junho de 2021 00h30

Foto: Rogério Mesquita

Por Luciana Marques

Quem acompanhou o final do capítulo de Salve-se Quem Puder, nesta quinta, 17, quando Mário (Murilo Rosa) e Helena (Flávia Alessandra) cruzaram os olhares após 20 anos, desde quando foram separados por uma armação de Hugo (Leopoldo Pacheco), ficou com gostinho de quero mais. A cena causou alvoroço nas redes, aumentando a expectativa de ver logo o casal #Malena junto. Em conversa com o Portal ArteBlitz, Murilo Rosa adiantou que o público pode esperar, nesse primeiro momento, sequências densas. “Ele tem uma mágoa profunda com a Helena. E quando encontrar com ela, não vai aguentar, vai colocar tudo pra fora”.

No papo, Murilo comentou também como criou junto com o diretor Fred Mayrink esse cara sofrido que, além de ter sido “abandonado” pela mulher, pensa que a filha, Luna (Juliana Paiva), está morta. Aliás, a descoberta de que a jovem não morreu, segundo o ator, é outra sequência tipo “aguenta coração. Além das próximas emoções na trama de Daniel Ortiz, Murilo comentou ainda sobre como se sente com a chegada dos 50 anos. Do time de galãs e atores mais requisitados da Globo, ele se diz feliz com as marcas da idade no rosto. No papo, ele falou também sobre a vida em família, com a mulher, a modelo e empresária Fernanda Tavares, e os filhos Lucas, de 13, e Arthur, de 9.

Quando o assunto é o momento difícil que o Brasil vive, com quase 500 mil mortos na pandemia da Covid-19, Murilo não fica em cima do muro. “Não é uma questão de ideologia, é humanitária. O silêncio nesse momento só vai atrapalhar”. Com o fim das gravações de Salve-se Quem Puder, o ator já tem vários trabalhos engatilhados. Entre eles, as filmagens, previstas para o próximo semestre e o início de 2022, dos longas Coragem Íntima, Meu Coração, esse em Portugal, e Perseguição e Cerco a Juvêncio Gutierrez. Murilo também protagonizará o musical Barnum – O Rei do Show, com previsão de estreia ainda este ano, e em breve deve ter seu nome anunciado em uma nova novela.

Luna (Juliana Paiva), Mário (Murilo Rosa) e Helena (Flávia Alessandra). Foto: Globo/João Miguel Júnior

Como foi pra você todo esse processo da novela das parar, voltar e agora vocês estarem assistindo tudo gravado? Foi um pouco estranho quando tudo aconteceu. A gente ficou sem saber se realmente ia voltar e de que forma. Teve essa interrogação no meio dos cinco meses que a gente ficou parado. A emissora tomou a decisão de retomar as gravações, com um protocolo muito rígido, mesmo assim algumas pessoas pegaram, não lá dentro, mas é pra ver como não é um processo simples. E nós gravamos até dezembro. E foi muito bacana. Tem uma frase que eu gosto muito, de que o ator em dificuldade acaba criando mais. Quando você se vê num lugar diferente e com dificuldades, acaba criando soluções. Acho que isso aconteceu pra toda a equipe e direção da Globo para o próprio Daniel (Ortiza) que teve que refazer várias coisas. Eu acho que a gente conseguiu ali criar uma dinâmica diferente e se adaptou aquilo. Claro, teve sim coisas difíceis, porque você ensaiava com a máscara, depois tirava e gravava. É um processo estranho, ainda mais com cenas de emoções. E o meu personagem teve sequências de carga dramática forte com a Flávia Alessandra. A gente fazia exame toda a semana, mas para essas cenas mais íntimas, de beijo, a gente fazia isolamento, ficava quatro dias em casa, repetia o exame e gravava a cena. Mas acabou que deu tudo certo, a gente está vendo a novela no ar, acho que cumpriu a função, num momento desse é bom ter uma comédia no ar. Pra gente foi diferente, mas também traz uma outra perspectiva.

Com a saída do José Condessa, você acabou ganhando novos parceiros, a Nina Frosi, o Rodrigo Simas e a Marianna Armellini. Como foi isso pra você? Eu acabo a primeira temporada no avião, indo para São Paulo. A segunda temporada já começaria com o Mário em São Paulo nessa nova vida dele. A gente já tinha gravado algumas cenas lindas em São Paulo, o Mário e o Juan chegando no táxi, mas tiveram que ser cortadas. Num primeiro momento eu fiquei bem chateado com isso. Aí logo de cara eu ganhei um presente, que foi a chegada do Rodrigo Simas, a gente fez junto Orgulho e Paixão. E foi muito bacana, eu adoro o Rodrigo, é um ator muito legal, um cara super do bem, responsável, comprometido. E ficou um núcleo legal.

Mário (Murilo Rosa). Foto: Globo/João Miguel Júnior

O capítulo de ontem terminou com a cena em que Mário e Helena cruzam os olhares, pela primeira vez, após 20 anos. O que a gente pode esperar disso, o Mário vai ter uma certa resistência em acreditar na Helena? Quando eu fui chamado para a novela, o Fred (Mayrink – diretor) me pediu para fazer um cara com aparência mais de velho, com uma barba, ele ia começar numa cadeira de rodas, porque deu tudo errado na vida dele. E também disse que era a primeira vez que eu ia fazer pai de uma menina já grande. Eu tenho idade para ser pai da Juliana (Paiva), mas na última novela eu tinha feito par com a Ágatha (Moreira). Acho legal chegar um momento para a gente abrir esse leque. Então, o Mário é um personagem que sempre teve como motivo da vida essa filha. E ele perdeu o grande amor da vida dele. E acha que foi abandonado pela Helena. Tem gente que dá a volta por cima, o Mário ficou com isso guardado. Ele foi abandonado pela mulher e essa mulher abandonou a sua filha pequena. E isso foi demais para ele. Ele passou por muitas coisas ruins, tem uma vida simples, humilde, então, o Mário carrega dentro dele marcas dessa trajetória de vida. E quando ele perde a filha, perde a vida dele. Ele acaba conseguindo dar um passo adiante por causa dos amigos e da profissão. Mas ele tem uma mágoa profunda com a Helena. E quando ele encontrar com ela, ele não vai aguentar, vai colocar tudo pra fora. Resumindo é isso, ele precisa colocar tudo pra fora, que está guardado há muito tempo.

Além desse reencontro com a Helena, há também a descoberta de que a Luna está viva, né? Agora é o Mário reencontrando a Helena, resolvendo essa situação, não posso contar de que forma, e o encontro com a filha, que ele acha que está morta. É só se colocar na situação real, e vou falar, foi bonito, foi muito emocionante a gravação. Vão ter muitas cenas intensas com a Flávia Alessandra e com a Juliana Paiva, quando tiver aquele encontro, vai ser uma doideira. É o grande momento do Mário na novela e pra mim também.

Você tem estado muito ativo nas redes, colocando suas opiniões, principalmente sobre o momento difícil que o  Brasil enfrenta com a pandemia. Acha importante um artista se posicionar? Eu acho que a gente está vivendo uma situação nesse país histórica. E vai ser lembrado pra sempre, tudo o que está sendo feito hoje, todos os equívocos cometidos serão lembrados no futuro. Então, eu sinto que não é uma questão de ideologia, nada disso, é humanitária, se você não se posicionar com algumas coisas que são óbvias, lógicas, você não tá ajudando. O silêncio nesse momento vai atrapalhar. Se hoje nós temos quase 500 mil pessoas que já morreram por causa desse vírus, a pergunta é, quantas pessoas poderiam ter sobrevivido se a gente tivesse falado mais, se as pessoas tivessem feito a coisa mais correta, pensando no próximo. Esse é o problema, é muita gente, mas virou número. A gente tem um atentado ao World Trade Center a cada 24 horas. É inacreditável! Não é mais uma questão de ideologia, de política, é humanitária. Eu tento ser o menos radical possível, tento colocar sempre muita informação no meu Instagram, mas às vezes não tem jeito.

Foto: Rogério Mesquista

Você chega aos 50 muito bem. É um dos atores mais requisitados da Globo, como lida com a questão da idade, do passar do tempo? Eu sempre achei, no início da minha carreira, que eu precisava ter marcas no rosto. Eu acho que todo o ator precisa dessas marcas. Por mais que você tenha vocação, talento, o entendimento de algumas emoções, que é fundamental para lidar com a profissão, você precisa de marcas no rosto, de experiência de vida. E eu lembro, eu com 20 e poucos anos, falar assim, quando eu tiver uns 35 anos, eu tenho certeza que eu vou fazer alguma coisa que vai ser muito sucesso. E, coincidentemente, aos 35, eu fiz o Dinho, de América, que foi aquele estouro. E eu sempre continuei pensando que quanto mais você tiver marca no teu rosto, mais o teu rosto como ator fica interessante. Eu acho que a ruguinha que vai aparecendo constrói um pouco dessa profundidade que tem que ter um ator. Eu lembro da biografia do Marlon Brando. Ele fala que pra gente criar o ambiente adequado de uma cena dramática, às vezes, você tem que passar uma noite inteira para criar aquilo. E eu já fiz isso várias vezes, já fiquei sem dormir para chegar de manhã no set com a cara que eu precisava estar, com a olheira profunda, o olho vermelho. Todos os processos são ricos, mas quando você tem um rosto mais marcado, olha o Anthony Hopkins, você precisa se esforçar menos, já está lá. Eu já fiz muito isso, de colocar na cena tudo o que ela precisa ou um pouco a mais. Então, quando você chega aos 50 anos, 60, esse rosto vai ficando muito apropriado, eu estou falando de ator. Não digo que a pessoa não tenha que se cuidar, mas eu estou dizendo que estas marcas são valiosas para um ator.

E a vida em família? Ah, é muito bacana! Todas essas fases são incríveis, o Lucas começou a me passar na altura e começou a tirar onda. Eu já virei piada, porque a Fernanda já é mais alta do que eu. Ela tem 1,80m e eu 1,79m, mas ela insiste que eu tenho 1,78. E o Lucas está com 1,84m, daqui a pouco o Arthur vai me passar, vou ser o menor da turma (risos). Mas é muito legal, divertido, a gente tem um ritmo muito intenso e alegre. A Fernanda é muito bacana, intensa e divertida dentro de casa, aqui é muita correria, muita coisa para administrar, mas acaba dando tudo certo. Estas etapas são incríveis, fundamentais. O Lucas já está descobrindo outras coisas, a gente tem que orientar, é aquela coisa, tem que insistir, falar, repetir, mostrar, não é simples, mas ao mesmo tempo a gente sabe que a vida é assim. A gente passou por isso, e estamos nesse momento de educar nossos filhos. Minha mãe que fala que educar é repetir, repetir e ter paciência.