Christiane Torloni: “Jô é a anti-heroína, imortalizada pela sua enorme humanidade”

Atriz relembra protagonista icônica de A Gata Comeu, de 1985, disponibilizada agora no Globoplay


09 de junho de 2021 00h39

Foto: Globo/Nelson Di Rago

Com mais de 50 anos de uma carreira emblemática nas artes, Christiane Torloni já fez o público se apaixonar por inúmeros de seus papéis. Uma das personagens, interpretada há 36 anos, continua no imaginário de quem era fã de telenovelas nos anos 80 e também no coração da atriz. A gente está falando da mimada Jô Penteado, de A Gata Comeu, de Ivani Ribeiro, exibida originalmente em 1985. E para a alegria dos admiradores da boa teledramaturgia, a novela está agora disponível no Globoplay.

“A Jô inicia uma trajetória na minha carreira fenomenal e quando falo isso é porque ela é um fenômeno. Foi um sucesso na primeira vez que foi exibida e todas as vezes que foi repisada, é impressionante. A gente ficou imortalizada pela enorme humanidade que ela tem. E um outro dado importante da personagem, que aparece pela primeira vez na minha carreira, é a comédia. E isso testa um pouco o ator para essa comunicabilidade para a comédia e aconteceu comigo”, diz a atriz.

A HISTÓRIA: JÔ PENTEADO ENCONTRA O AMOR DE SUA VIDA APÓS 7 NOIVADOS, MAS VIVE TIPO GATO E RATO COM O PROFESSOR FÁBIO

Jô Penteado (Christiane Torloni) e Fábio (Nuno Leal Maia). Fotos: Globo/Nelson Di Rago/Montagem 

Jovem, bonita e rica, Jô Penteado (Christiane Torloni) não tem sorte no amor. Afinal, ficou noiva sete vezes, mas nunca se apaixonou de verdade. Mas tudo isso muda quando o professor Fábio Coutinho (Nuno Leal Maia) aparece em sua vida. Mas esse encontro ocorre de forma nada romântica, já que eles se conhecem durante um naufrágio.

Fábio faz a excursão com os alunos, enquanto Jô passeia com a família e amigos, no mesmo barco, de propriedade do pai dela. Com o incidente, todos vão parar numa ilha deserta. A convivência diária, durante dois meses, faz eles se odiarem. Mas ali também nasce um amor forte e tumultuado. E quando voltam às suas vidas, vivem um romance à la gato e rato.

CHIRSTIANE RELEMBRA A TRAMA E SUA PERSONAGEM “FENOMENAL”

Qual a importância da Jô para você como atriz? A Jô Penteado é a segunda protagonista que eu faço, a primeira foi Gina, da Janete Clair, que era mais dentro das características das mocinhas, uma típica  heroína. Já a Jô é uma anti-heroína, que é aquela personagem que traz toda humanidade que nós temos, com os nossos defeitos, nossos erros, nossos flagelos, nossas misérias, mas também com todas as nossas infinitas possibilidades de generosidade, empatia, amor. Então são personagens que abrem um espectro de identificação para o público que é maravilhoso porque nós não somos perfeitos. 

Há alguma cena ou momento da novela te marcou especialmente? A novela é repleta de momentos inesquecíveis, mas um que particularmente me toca é o  fato de em alguns momentos eu contracenar com a minha mãe.  Coisa  que raríssimamente voltou a acontecer. É um registro histórico e magnífico das duas em cena.

Que lembranças você traz dos bastidores de gravação? Fazíamos muitas externas na Urca e o bairro nos abraçou. As pessoas abriam suas casas para fazermos trocas de roupa, ofereciam lanchinhos, fomos muito acolhidos pela comunidade. Até hoje algumas  pessoas dos inúmeros fãs clubes da novela fazem um tour pelo bairro, pelos lugares onde as cenas foram gravadas.

Foto: Acervo Globo

Foto: Acervo Globo

Qual a característica da personagem que mais te chama a atenção? Eu sou filha de atores, fui uma das últimas caçulas da família, então convivi muito com adultos na infância, todos eram muito mais velhos que eu e eu me questionava sobre a minha comunicabilidade com crianças. Com a Jô eu estabeleci uma comunicação absolutamente direta e íntima com as crianças da novela e me surpreendeu muito. Ou seja, a novela me mostrou  a minha criança viva, foi uma revelação para mim e a partir dali isso apareceu em outros personagens e guardo isso comigo até hoje, na minha vida. 

Como você vê essa oportunidade de outras gerações poderem revisitar essa obra, agora no streaming? Poder resgatar essas obras maravilhosas e disponibilizá-las para a hora que as pessoas quiserem assisti-las é maravilhoso. Antes isso era coisa para colecionador, que arquivava essas novelas em VHS, e agora todos têm a oportunidade de ver e rever esses trabalhos. É uma forma de imortalizar essas obras. Acho uma sorte viver nesse tempo em que isso é possível, das pessoas poderem matar a saudade de Jôs, Helenas, e tantas outras personagens inesquecíveis da nossa dramaturgia. É incrível essa possibilidade do passado se tornando para sempre uma coisa do presente.  

Foto: Acervo Globo