Regina Casé sobre reta final puxada de Lurdes, em Amor de Mãe: “Carminha perto da Thelma é fofa”

Ela festeja volta da trama ao ar, fala como se reconectou com matriarca e da expectativa pelo encontro com Domênico


01 de março de 2021 00h25

A icônica Lurdes, de Amor de Mãe, já era paixão nacional quando se tornou uma das fantasias mais vistas nos blocos de Carnaval do Rio, em 2020. A guerreira, forte e divertida personagem, vivida com excelência por Regina Casé, representa as mães de todo esse nosso imenso Brasil. Mas com a pandemia da Covid-19, de repente, Lurdes teve que sair um tempo de cena, com a interrupção das gravações nos Estúdios Globo, no Rio. Mas a boa notícia é que, a partir desta segunda, 1º de março, ela e todos os personagens criados por Manuela Dias estarão de volta no horário nobre.

Nas primeiras duas semanas, serão mostradas as histórias de Lurdes, Thelma (Adriana Esteves) e Vitória (Taís Araújo) para o público relembrar. E, a partir de 15 de março, serão exibidos capítulos inéditos. Regina Casé entregou, em coletiva online, que Lurdes vai padecer nesta segunda temporada, até encontrar o filho Domênico/Danilo (Chay Suede). “O que eu posso dizer é que a Carminha perto da Thelma é uma fofa (risos). É muito punk essa volta pra mim. Queriam me tirar da zona de conforto e eu fui para a maior zona de desconforto possível, foi muito barra pesada”, conta a atriz, citando a emblemática vilã de Adriana Esteves, em Avenida Brasil.

Como foi se reconectar com a Lurdes quase seis meses depois da paralisação das gravações? Eu tenho uma coisa engraçada, e esses itens estão até pendurados na porta da minha casa, a bolsa da Lurdes, com a sombrinha, com a toalha e os óculos. Quando eu comecei a novela, eu fiquei com vergonha de colocar sotaque, tinha muita vergonha de composição, quando você resolve antes, aquilo não vem. E eu perguntei à Manuela (Dias – autora), ao Sílvio de Abreu (diretor de teledramaturgia, e ao Zé (José Luiz Villamarim – diretor artístico), porque eu já fiz muitas nordestinas, eu falava, lá vem eu com aquele sotaque. Então fiquei na maior dúvida se colocava ou não. Mas não tinha jeito, saia com sotaque, e o texto sempre vinha com você e ela falava tu. E quando passou esse tempo todo, seis meses, eu não tinha saído de casa, eu fui para lá e pensei que ia entrar no sotaque de gaúcho do Juliano Cazarré (risos). Só que eu botei o óculos, pendurei a bolsa e ajeitei a toalhinha e a Lurdes veio, não demorou um segundo. Eu acho que esses itens são mágicos, botou, virou.

Como foi viver também dentro da trama a pandemia do Coronavírus, já que fora já se viam números assustadores? Eu era a pessoa que mais preocupava a todos, porque na nossa família da novela, eu era a mais velha. Ao mesmo tempo, eu era, não a imprudente, mas a que mais se jogava. Porque eu acho que talvez fosse aquela que estivesse mais, não vou dizer frustrada, mas com aquilo tudo guardado de um jeito... Porque a Lurdes é uma personagem muito arrebatadora. E para eu fazer a Lurdes, eu me joguei, e para você puxar o freio de mão. Quanto mais você tá dirigindo um caminhão grandão e a velocidade é grande, é mais difícil de frear do que quando você está dirigindo um carro mais suavemente. Então, foi muito difícil pra mim puxar o freio, não só a novela e o personagem que é lindíssimo, o encontro desse elenco é uma coisa única. Todos tinham um amor, um cuidado um pelo outro. Então é isso, a gente criou uma família e, de repente, isso é interrompido. Eu tinha acabado de estrear uma peça, um filme, eu plantei, plantei e quando fui colher, ficou tudo represado. Então, quando eu voltei, eu queria abraçar, pular em todo o mundo, e as pessoas diziam, não...  Esse aspecto tinha a ver com a minha infantilidade, que não chegava a ser imprudência, era amor mesmo. E eu me senti muito segura com todos os protocolos da Globo, muito cuidada.

Foto: Globo/João Cotta

Quando a pandemia estourou, além de toda a preocupação com o vírus, teve uma preocupação de como a Lurdes ia encontrar o Domênico no meio disso tudo. Você sentiu essa reação, mesmo no meio de tantos problemas, as pessoas se sensibilizarem com o drama dessa mãe? No Carnaval de 2020, eu acompanhei pelas redes sociais o tanto de gente que se vestiu de Lurdes, eu recebia milhares de fotos, vídeos, de crianças, idosos, todos saíam para procurar o Domênico. E da mesma forma que chegou esse amor todo no Carnaval, eu adorei ver essa preocupação. Isso eu senti demais nas redes e ajudou a aquecer um pouco o meu coração. Imagina, você fazendo um papel como esse, eu que já ando na rua beijando e abraçando todo o mundo, imagina com a Lurdes. Qualquer lugar que ia, eu ganhava milhões de beijos e abraços. Isso também me foi roubado com a pandemia, eu fiquei um ano sem ganhar beijo e abraço dos meus amigos, imagina dos desconhecidos. Isso pra mim foi triste, muito duro. Claro que eu penso toda a hora nas pessoas que estão com uma realidade muito pior, no hospital, sem trabalho, mas particularmente, eu, como pessoa, sofri muito com essa falta de afeto. E as redes sociais cumpriram muito esse papel. Perguntavam, como é que você vai sair pra procurar o Domênico? Se sair, coloca máscara.

Qual foi até agora a cena mais emocionante para você na novela? São muitas. A formatura da Camila (Jéssica Ellen), eu sou grata àquela cena, meio que me ensinou o que era família, me ensinou como era a relação da Lurdes com os filhos, estabeleceu uma relação linda minha com a Jéssica. Foi essa cena que me colocou na Lurdes. Até então, eu não sabia como ela olhava, falava, eu ainda não tinha a Lurdes. As cenas iniciais com o Magno (Juliano Cazarré) no ônibus e depois quando ele conta do crime e eu falo, tua mãe tá aqui. Essas sequências, também foram determinantes, fui aprendendo do que ela era capaz.  Depois, ela procurando o Sandro (Humberto Carrão), pra ver quem era, aquilo ali eu também quase morri de curiosidade, foi uma cena linda, assim como a tristeza da cena de ele não ser o filho. Mas há várias, aquela do hospital com a Jéssica. Eu me lembro de uma outra cena que eu me vi dentro do noticiário, parecia que eu tava vendo o RJ Notícias, que foi no cemitério, o tiroteio e eu querendo salvar o meu filho. A sensação de estar morrendo de medo e, ao mesmo tempo, entrar na frente do tiroteio, aquela cena pra mim foi muito forte, violenta, de sentimentos, vem uma coragem. Eu, Regina, talvez saísse correndo, a Lurdes se enfiou entre os tiros. Só interessava ela salvar o filho e a gente escuta isso tantas vezes.

Qual o primeiro sentimento que veio a você quando soube que a novela ia voltar? Lá no começo, quando se conjecturava voltar, eu conversei com a Manuela e ela disse, Deus me livre ter pandemia na novela. Quando a trama voltar, todo o mundo vai estar de saco cheio. E eu concordei. Aí passou um tempo e chegaram os textos com a pandemia. Eu acho que por conta de todos os cuidados, os protocolos, seria inviável gravar se a pandemia não tivesse inserida na ficção. E eu fiquei com medo porque ela tinha me convencido que não era uma coisa boa. Mas eu acho ótimo, é mais do que realista, mais do que naturalista, tem quase uma característica documental, ele não só marca essa época, como as emoções. Porque viver o que a gente está vivendo no mundo e no Brasil, as coisas tristes que a gente está vendo, isso tudo provoca emoções que a gente nunca teve, porque ninguém nunca passou por isso. Então essas emoções novas, que estão sendo agora produzidas em nós, já estão na novela. Eu diria que será um pós-naturalismo, é mais que naturalismo. E eu acho que a Manuela fez isso com maestria. E se a gente acha que a Lurdes é muito humana, que cada um desses personagens é muito humano, eu acho que a pandemia deu a gente mais ainda. Eu espero, porque nem todos entenderam ainda, mas espero que uma hora todos entendam, a gente tem que pensar na gente não só como humanidade, mas como um todo, qualquer bicho, planta. Todo o mundo depende de um todo. Senão a gente vai viver esse inferno por muito tempo ou repetidas vezes. E eu acho que isso tudo veio para a novela.