As conquistas de Samuel de Assis: Ator se sobressai como o complexo Lucas de Insânia

Ele cita aprendizados na elogiada série de terror e se orgulha de emendar papéis não estereotipados


22 de dezembro de 2021 23h08

Foto: Jorge Bispo

Com trajetória no teatro desde os 18 anos, Samuel de Assis vive um momento especial no audiovisual. Aos 39 anos, o ator tem visto uma repercussão muito positiva de sua atuação como o complexo Lucas, da série de terror Insânia, do Star +. O personagem é residente da suspeita clínica Shultz, onde a protagonista Paula (Carol Castro) é internada, e usa uma venda para se isolar do mundo real. “Lembro que foi muito difícil, no começo, expressar os sentimentos sem usar nosso maior veículo (os olhos)”, diz.

Entre os aprendizados que Samuel leva do trabalho, está o fato de tentar encarar as dores de frente e “dançar com elas”. “E entender a melhor forma de seguir em frente fazendo uma ‘limonada’”, reflete ele. E é com seu talento e determinação e, mesmo enfrentando o racismo estrutural, que Samuel vem conquistando mais espaço. Ele também está no elenco das séries ainda não lançadas, Resga Hits!, do Globoplay, e Lov3, da Amazon.

Lucas (Samuel de Assis). Foto: Pio Figueroa

O que mais instigou você no convite para fazer Insânia? O que me instigou a priori foi o texto que achei inovador e instigante. Na sequência foi saber quem dividiria o set comigo. Fomos uma equipe muito unida e feliz realizando esse trabalho.

Como foi a composição do personagem, você chegou a ir em alguma clínica, assistiu filmes e séries sobre o assunto? O seu personagem usa uma venda nos olhos a maior parte do tempo, o que foi mais complexo nesse trabalho de composição? Sim, fomos numa clínica e conversamos mais com os profissionais da saúde do que com os internos. Eu queria muito me certificar de que nada do que eu estava propondo era “over”, queria tratar com respeito e verdade essa pegada da personagem. Não vi trabalhos de outras pessoas sobre. Lembro que foi muito difícil, no começo, expressar os sentimentos sem usar nosso maior veículo (os olhos). Mas construí junto com os diretores uma coisa muito legal que foi fazer cada take de uma forma diferente e deixar a edição brincar com a nossa proposta. Eu quero saber de vocês, porque eu gostei do resultado.

O seu personagem usa essa espécie de venda nos olhos como que para ocultar o mundo real de sua vista... O que você mais aprendeu nesse trabalho e qual a mensagem que acredita que vai ser deixada para o público? O Lucas usa uma venda para “fugir” do mundo real e viver no seu mundo perfeito por não suportar as dores dessa vida e acaba se perdendo e nos confundindo sobre o que é real e o que não é.  Essa confusão traz problemas ainda maiores pra nossa existência. Eu aprendi e tenho pensado cada dia mais sobre o fato de encarar nossas dores de frente, dançar com elas e tentar entender a melhor forma de seguir em frente fazendo uma “limonada”.

Foto: Jorge Bispo

Insânia é um thriller psicológico. E o Brasil produz poucas tramas desse gênero. Como viu o resultado em geral dessa produção que tem sido bem elogiada? E você já curtia filmes desse estilo? Eu confesso que nunca assisti muito filme de thriller psicológico, gosto muito de suspense, mas nunca fui do terror. Agora confesso que fui fisgado, queria emendar uns três (risos). Achei que o resultado superou muito as minhas expectativas e estou orgulhoso do trabalho que realizamos.

Como avalia a sua trajetória na área artística, você começou aos 18 no teatro, estudou com grandes nomes, fez muitos espetáculos, também escreve música. Acha que tudo tem acontecido no momento certo ou demorou, porque não é uma carreira fácil, né? É muito difícil eu mesmo dizer que está ou não tudo no tempo certo. Acho que o ser humano precisa de algo maior sempre, pra continuar a caminhada. Eu acredito que tudo tem seu tempo, se viesse antes eu talvez não estivesse pronto e se demorasse mais talvez eu desmoronasse. Eu sou um cara que tem prazer no presente e pretendo continuar assim. Mas o que posso dizer é que apesar das dificuldades que o racismo estrutural impõe nesse país, eu me orgulho muito da minha trajetória.

Você produziu muitos espetáculos. Acha que cada vez mais o ator deve se autoproduzir ou cada caso é um? Eu acho que todo ator deve se produzir. Eu aprendi com Zé Celso o ato de se autocoroar pra seguir na CIA. Levei pra vida e acho necessário o ator saber sobre todas as camadas que uma produção perpassa. Acho que ficamos mais completos, aprendemos a respeitar todas as funções e somos mais respeitados por saber sobre. Mas é a minha opinião, há quem não queira e eu respeito.

Em termos de representatividade, já pode se dizer que há mais espaços para atores pretos, sem papéis estereotipados, ou ainda falta muito? Acho as duas coisas. Já há mais espaço sim, mas ainda falta muito. Muito mesmo. Mas me orgulho de estar construindo minha carreira em papéis nada estereotipados. Pago um preço de nem sempre estar na ativa, mas vale à pena.