Livro reúne depoimentos reais para explicar a sigla LGBTQIAPN+

Autor de Armários Abertos, Valmir Moratelli conta como surgiu o projeto sobre a diversidade sexual


01 de abril de 2021 00h18

Valmir Moratelli com o novo livro. Foto: Divulgação/Montagem

*Por Valmir Moratelli

No começo dos anos 2000 havia um quadro de humor no extinto Zorra Total, da TV Globo, interpretado por Lúcio Mauro Filho, no papel de Alfredinho, e o pai machista vivido por Lucio Mauro, o Alfredão. Diante de um filho com roupas de mulher, repleto de gírias gays e afeminado, Alfredo terminava a esquete se lamentando com o bordão “Mas onde foi que eu errei?”. Através do humor se ridicularizava o sujeito gay, tornando-o motivo de vergonha paterna. Para um homofóbico, o programa ressaltava seu discurso e o encorajava a perpetuar pensamento de repulsa ao diferente, com respaldo da mídia televisiva. Para quem se identifica com a homossexualidade, o programa tinha outra leitura, o de agressão por representar um drama real – a rejeição paterna – no tom jocoso e caricato da depreciação.

Foi por me questionar sobre a representação de determinados grupos sociais, que surgiu a ideia de Armários Abertos – depoimentos da diversidade sexual. Inicialmente seria um filme, mas aí veio a pandemia e tudo fechou. Só que o projeto não perdeu fôlego, ganhou o formato de livro e chega agora às livrarias. Reuni depoimentos de diferentes pessoas que narram suas experiências mais íntimas sobre a descoberta da própria sexualidade e como se definem dentro das amplas camadas da diversidade sexual humana. São histórias que nem sempre cabem na sopa de letras da sigla LGBTQIAPN+ (Lésbicas, Gays, Bi, Trans, Queer/Questionando, Intersexo, Assexuais/Arromânticas/ Agênero, Pan/Poli, Não-binárias e mais).

Pensar atualmente no quadro com Alfredinho e Alfredão parece descabido, ainda que vez ou outra apareçam exemplos que se aproximem daquele tipo de humor. Porém, novas produções surgem para direcionar caminhos que não são pautados em visões carregadas de preconceitos. Nossas telenovelas têm apresentado avanços dignos de estudo – o trans Ivan de A Força do Querer, o beijo gay de Felix em Amor à Vida, a relação entre Clara e Maria de Em Família, entre outros.

O processo de ressignificação da própria imagem é muito presente entre pessoas que “saíram do armário”, e muitas vezes não condiz com o que a ficção mostra. Os relatos do livro atravessam a pressão social, o apoio ou negação da família, a culpa religiosa, os olhares no âmbito escolar ou profissional, a objetificação do corpo e a busca por uma satisfação interna. Por isso o debate se faz necessário e urgente no país que precisa avançar no combate à homofobia e à transfobia. Com prefácio do médico psiquiatra Jairo Bouer, Armários Abertos terá uma live-lançamento dia 8 de abril, às 19h, no meu perfil @vmoratelli, com a participação dos “atores” da vida real.

* Jornalista e roteirista. Armários Abertos – depoimentos da diversidade sexual é o seu quarto livro.