Filme que ressignifica a velhice, Prateados traz falas de nomes como Zezé Motta e Tonico Pereira

Valmir Moratelli, que assina a direção com Libário Nogueira, cita desafios da produção, com estreia no GNT e Globoplay


20 de setembro de 2021 00h33

Foto: Rodrigo Santos/Montagem

“Todo idoso tem seu valor. Eu digo que nós somos valiosos como a prata, porque a prata é um metal nobre, que passa de geração pra geração. A velhice é como a prata”. A explicação é dada pelo artista plástico Sebastião Januário, de 81 anos, e sintetiza o que Valmir Moratelli e Libário Nogueira expressam no filme Prateados – a vida em tempos de madureza, com estreia no próximo dia 27, no GNT e, em seguida, no Globoplay. Nomes como Zezé Motta, Tonico Pereira, Romeu EvaristoNoca da Portela, entre outros, também participam.

Além disso, o filme foi selecionado para o Festival Guarnicê de Cinema 2021, que está sendo realizado no Maranhão, até 24 de setembro, em formato híbrido, com programação online e em São Luís. Produzido ao longo da pandemia da Covid-19, Prateados aborda diferentes visões sobre a velhice, em amplos recortes de gênero, cor, profissão e aspectos econômicos. O diretor Valmir Moratelli fala sobre os desafios do projeto.

Valmir Moratelli, que assina a direção com Libário Nogueira. Foto: Raphael Vasconcelos

Falar de velhice está na moda? Se pegarmos os filmes de maior destaque no Oscar desse ano, sim. Meu pai, Nomadland, Agente Duplo são produções que, de alguma forma, tratam de questões de pessoas maduras. Mas o tema também está na moda, porque, infelizmente, autoridades públicas têm proferido opiniões preconceituosas contra os idosos, reforçando estigmas sociais.

O filme traz a velhice sob diferentes perspectivas - da mulher, homem, gay, pobre, negro... Como foi lidar com tantos recortes? A velhice não é uma só, impossível homogeneizar uma categoria de envelhecimento num país tão desigual quanto o nosso. O cara do Espírito Santo tem média de vida de 78,2 anos e, no extremo oposto, o do Maranhão tem cerca de 70. Tratamos da velhice no plural, como velhices, para chamar mesmo a atenção da pluralidade de assuntos possíveis.

Qual a maior diferença entre a velhice do homem e da mulher, por exemplo? A mulher começa a lidar com a velhice muito antes, no momento que seu corpo deixa de ser fértil. É a crueldade do sistema patriarcal. Já o homem grisalho é charmoso. A velhice só é um problema real pro homem quando associada a problemas de ereção.

É possível falar da velhice sem ser melancólico? Claro! Prateados não tem nada de melancólico. Tem momentos de emoção, de reflexão, mas também vai te fazer dar boas risadas...

Se pudesse destacar uma parte do filme para ficarmos atentos, qual seria? Gosto muito das histórias do Sebastião Januário. Ele é um artista plástico que teve como aluno simplesmente Abdias do Nascimento (ativista do movimento negro no país). É um poço de sabedoria, e quem nos dá o nome do filme numa explicação soberba! Januário é tão intenso que, depois do filme, ainda fizemos um curta com ele.

Como arte e discurso se cruzam nesse filme? O discurso é o fio-condutor do Prateados. A gente queria ouvir essas pessoas! E entre suas falas, elas cantam, recitam poesia, tocam instrumento, fazem brigadeiro... A arte vem para pontuar suas memórias, suas opiniões. Acredito no discurso como a força do filme.

Teve algum momento que você se emocionou ouvindo esses relatos? Impossível fazer cinema sem se emocionar. Lembro do arrepio de ouvir Noca da Portela cantar seus sambas antológicos, rodeado dos seus troféus. O maior ganhador de sambas-enredo do carnaval, e em plena atividade, é um luxo que temos em Prateados.

O que a pandemia de Covid-19 nos ensinou sobre os idosos? É cedo para a gente avaliar o que a pandemia deu de lição, até porque ainda não terminou. Mas ela ajudou a escancarar o etarismo, o preconceito contra idosos, que sempre foi um assunto velado, mas agora ficou nítido na fala dos governantes. Ou mudamos isso, ou o Brasil está ferrado. Não somos mais um país jovem. É hora de valorizarmos a imensa “biblioteca humana” que temos aqui.

Pôster: Arthur de Carvalho